Poeta “é aquele que sente a poesia, se extasia sensível ao achado de uma rima à autenticidade de um verso”, já dizia Cora Coralina, considerada uma das maiores escritoras brasileiras. A afirmação da poetisa e contista abraça a verdade de que há muitos poetas a serem descobertos, pessoas de almas gigantescas como a Creusa Martins da Silva, 58 anos, que trabalha de gari na Prefeitura de Formiga, e nas horas vagas se dedica à poesia.
A formiguense, que nasceu na comunidade rural Padre Doutor, mora em Formiga há 33 anos, é solteira e vive com a mãe Vitória Martins da Silva e a irmã Cleide Martins da Silva.
Com uma memória incrível, Creusa cita a data e se recorda do primeiro dia de escola, na comunidade rural Córrego da Arreia, quando tinha oito anos de idade. Filha de pai severo, Creusa não não pode dar continuidade aos estudos após concluir a quarta série do primário e fala sobre isso com naturalmente. Sem demonstrar nenhuma amargura, ela explica que o pai temia que ela não levasse a escola a sério e se desviasse para outros caminhos, pesou também na decisão do pai a condição financeira da família, que era apertada.
Creusa parou de ir à escola, mas como amante da literatura manteve ativo o interesse pelos livros. Gostava de ler Vinícius de Morais, Olavo Bilac, Machado de Assis, Gonçalves Dias e diversos outros famosos da literatura brasileira. Ela foi influenciada pelos poetas ao ponto de se interessar pela escrita aos 52 anos de idade. Foi quando ela construiu as primeiras rimas.
Creusa passou a dedicar-se à escrita nas horas vagas e concluiu quase 20 poesias. No entanto, para dar atenção à mãe, que está com 80 anos de idade e requer cuidados com a saúde, ela acabou deixando a escrita em segundo plano, mesmo assim Creusa vem marcando presença como escritora, participando de eventos, programas de rádio e de TV, e também em revista e jornais, nos quais já apresentou suas poesias.
A primeira declamação de Creusa ocorreu em 2012, durante uma mostra de Fernando Sabino, no Museu Municipal de Formiga. Naquela ocasião, ela apresentou uma poesia autoral dedicada ao escritor. Logo depois, ela foi convidada para fazer a apresentação na TV local e em uma rádio e se sentiu motivada a escrever mais. Os novos escritos levaram Creusa a ganhar espaço na Tribuna da Câmara Municipal, em um dia de homenagens pelo Dia Internacional das Mulheres; em evento de homenagem pelo Dia das Mães, em praça pública; além de outros eventos.
Creusa conta que apesar de agradar a muitos com seus poemas, há pessoas que a criticam. Com naturalidade, ela conta que certa vez uma pessoa lhe disse que não acreditava que ela soubesse o significado de certa palavra usada em uma poesia e que ela teria usado a palavra apenas para fazer a rima, isso apesar de a palavra estar inteiramente integrada ao contexto do verso. À questão de como tais críticas são encaradas, ela responde que acha natural, e que sabe que não é possível agradar a todos.
Como qualquer escritor, Creusa sonha em ter um livro publicado apesar de dizer não consider-se uma poetisa. “Do ponto de vista de muita gente, ainda estou engatinhando”, diz ela explicando que precisa escrever mais, porém que a maior necessidade, por hora, é dar atenção à mãe, que certa vez reclamou dela dar muita atenção à escrita e pouca a ela. “Não a considero como uma pedra de estorvo na minha vida e quero que ela viva mais 130 anos”, diz sorrindo e afirmando que a poesia, por enquanto, não é sua prioridade.
Poesia de Creusa:
“O Amor de mãe sempre prevalece”
Mãe canta musiquinha ou historinha para a criança dormir
Depois que a criança dorme, a mãe muito feliz sai do quartinho a sorrir
Para criar os filhos, mãe trabalha para defender o pão
Se for preciso, mãe divide com os filhos o seu próprio coração
Mãe é também chamada de mãezinha, mãinha, mamãe, ou mamãezinha…
De qualquer forma, do lar ela é a rainha
Anoitece e amanhece
O amor de mãe sempre prevalece
Falar de mãe é importante
Falar de mãe é emocionante
Desejo que, por Deus e por Jesus, todas as mães continuem sendo muito abençoadas e iluminadas.”